Carros elétricos e suas variações

     Interessei-me pelo assunto recentemente, estimulado pelas notícias de preços melhores e aumento das vendas, principalmente dos carros chineses.

    Como tudo que envolve tecnologia, não é tão simples e fácil de entender como eu imaginava.

    Consumo renovável e sem emissão de poluentes

    O carro elétrico encanta quando vemos o valor gasto por quilometro percorrido.

    Vou usar os dados divulgados pelas montadoras dos modelos mais vendidos no País nesse início do ano de 2024 apenas para comparar.

    O VW Polo tem 8 variações com preços bem distantes, começando em R$ 89.290,00 até o GTS 250 TSI por R$ 153.790,00.

    Assim vou usar justamente os modelos que têm preços mais próximos para exemplificar.

    O Comfortline tem valor de R$ 113.690,00 e o elétrico mais vendido BYD Dolphin Mini R$ 115.800,00.

    Sei que são propostas totalmente diferentes, mas consideremos o uso urbano principalmente.

    O motor 1.0 turbo da VW tem consumo médio de 8,4 km/l com etanol e 12,1 km/l com gasolina na cidade, enquanto na estrada mantém uma média de 10,5 km/l com etanol e 14,9 km/l com gasolina. (Fonte https://www.agoramotors.com.br/vw-polo-2025/)

    Já o motor elétrico consome 12,1 kWh/100 km.

    O valor médio da gasolina informado pela Petrobras para o Paraná hoje é de R$ 6,03.

    Assim, considerando apenas o combustível, o VW gasta quase R$ 0,50 por quilometro rodado.

    Para o preço do kWh vou pegar minha conta da Copel nesse mês e dividir pelo consumo, o que dá aproximadamente R$ 0,87.

    Multiplicando  pelos 12,1 kWh temos R$ 10,49 e dividindo por 100 Km, chegamos a R$ 0,10 por quilometro rodado.

    Esse valor pode ser zerado em pontos de abastecimento, pois algumas montadoras dão até um ano de recargas grátis ou majorado se tiver que pagar pela recarga.

    Interessante a coincidência do número 12,1 nos dois modelos.

    Tive o VW UP TSI e dificilmente conseguia chegar nos 10 Km/l no consumo urbano, mas era possível chegar nos 20 Km/l na estrada.

    O motor é o mesmo, mas houve alguns ajustes desde então.

    Apesar do carro elétrico não emitir poluentes, há uma preocupação com o futuro das baterias e seu descarte.

    Torque, potência e peso

    Várias características são comuns, sendo uma das mais notáveis o torque imediato no motor elétrico.

    Ao contrário dos motores a combustão, que atingem o pico do torque a partir de uma determinada rotação, os elétricos disponibilizam essa potência de imediato.

    O excelente motor 1.0 turbo da VW, tem torque máximo de 16,8 Kgfm na faixa de 1.750 a 4.500 rpm (4250 a gasolina) e 109/116 cv (gasolina/etanol)

    Alguns modelos nacionais passaram a usar um número junto ao modelo para indicar esse torque em nm, no caso 170.

    O BYD tem 135 nm e 75 cv, que podem parecer pouco, mas na prática são bem "disfarçados" pelo torque imediato.

    As baterias aumentam muito o peso do carro elétrico plugin, 500 Kg é um peso normal a ser adicionado.

    O VW pesa 1.154 Kg e informa carga útil de 416 Kg.

    O pequeno BYD pesa 1.568 Kg.

    Autonomia e abastecimento

    A maior interrogação dos carros elétricos está aqui.

    A autonomia do VW com seu tanque de 49 litros, abastecido com gasolina no uso urbano, seria de 592,9 Km.

    A BYD declara  280 Km, mas o marcador no painel indicava perto dos 400 Km quando fiz o test drive.

    Há uma pequena regeneração das baterias por frenagem ou freio motor, nos modelos híbridos o motor a combustão também faz a recarga (que pode ser suficiente para os modelos não plugin que tem uma bateria bem pequena).

    As baterias esquentam e precisam de um sistema para refrigeração.

    Há dois tipos de carregadores e uns três tipos de conectores diferentes e incompatíveis entre si.

  • corrente alternada, cuja potência é menor e demora mais no processo, conhecido como portátil, para uso numa tomada 220V de 20A com aterramento (nada comum aqui no Interior do Paraná, mesmo sendo a recomendada para a instalação de aparelhos de ar-condicionado, aqui em casa não tem sinal de aterramento)
  • corrente direta, maior potência e velocidade no carregamento, precisa da instalação de um carregador dedicado e normalmente, são os encontrados em pontos de abastecimento

    A BYD  declara que a recarga da bateria de 30% até 80% pode ser feita em meia hora usando o carregador manual mais lento em casa.

    Podemos dizer que seria equivalente a uma parada para abastecimento num posto de combustível para encher o tanque.

    O consumo do carro elétrico é maior na estrada, reduzindo muito a autonomia declarada.

    Mesmo com tanta bateria, mantém a necessidade da bateria tradicional de 12V para os itens normais do veiculo, como luzes, travas, alarme, central multimídia e etc.

    Nomenclatura

    A tendencia de adoção das siglas padronizadas é um bom indicio de melhoria das informações, mas mesmo assim ainda temos as pegadinhas.

    Em inglês, temos:

  • EV = Electric Vehicle, engloba todos os veículos elétricos, mas em geral, é usado como sinônimo da próxima:
  • BEV = Battery Electric Vehicle, usa apenas o motor elétrico alimentado por baterias recarregáveis, que precisam ser carregadas por um carregador ligado a rede elétrica, a exemplo dos celulares.
  • HEV = Hybrid Electric Vehicle, o motor principal a combustão, auxiliado por um motor elétrico que normalmente é utilizado apenas em baixas velocidades. Usa bateria de baixa capacidade, cuja recarga é realizada pelo motor a combustão ou regeneração quando aciona o freio.
  • PHEV = Plugin Hybrid Electric Vehicle, usa motor a combustão e elétrico, mas tem baterias de maior capacidade, que precisam ser carregadas como os BEV.
    Os modelos híbridos têm motores separados, com especificações de potência e torque diferentes, mas o resultado final não é a soma desses, devido a forma de funcionamento que normalmente prioriza o funcionamento do motor a combustão, com o elétrico para baixas velocidades principalmente pelo torque imediato.
    Há dois modelos híbridos:
- leve, apenas o motor a combustão impulsiona o carro, o elétrico é um auxiliar
- pleno, qualquer dos motores pode impulsionar o carro, sem precisar do outro.
    Temos vários modelos no País, mas a tradicional Toyota segue campeã de vendas com seu Corolla híbrido, cada vez mais pressionada pelo BYD Song.
    O diferencial também é o consumo e o torque, a média costuma ser de 20 Km/l na cidade.
    A faixa de preços dos híbridos é mais alta, os Corolla começam em R$ 190.000,00.
    A Caoa mexeu com o mercado com um modelo mais barato do Tiggo 7, o modelo Sport com valor sugerido de R$ 134.990,00, mas aparentemente, não tinha capacidade de bancar a aposta. O prazo de entrega é superior a 180 dias.

    Reflexos no mercado nacional


    O sucesso dos modelos chineses movimentou o mercado nacional e fez as montadoras melhorarem o acabamento e oferta de itens de segurança e conforto.
    Lembro do choque que tive ao entrar pela primeira vez em uma BMW de entrada, o modelo 120i, maior ainda ao viajar de carona no bólido alemão.
    Quase uma década depois, um modelo chinês me fez lembrar da experiência, agora num test drive dentro do GWM Ora 03 Skin (o modelo mais simples).
    Realmente  é uma experiência gratificante, o acabamento é muito bom, a eletrônica embarcada chama a atenção, a sensação de segurança parece aumentar e o ADAS finalmente me trouxe o que eu imaginava que seria um piloto automático antes de conhecer o recurso mais conhecido como controle de cruzeiro.
    Pontos cruciais que impedem a adoção da tecnologia são a baixa autonomia, dificuldade de carregamento, segurança das baterias e o preço de revenda.
    Acompanhei as notícias e vídeos do lançamento do novo Renault Kardian, assim como os novos modelos das marcas tradicionais, VW, Toyota, Honda e parece que sairemos enfim da era das carroças e do acabamento em plástico duro nos carros.

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